A estratégia “furada”: o último concurso de capitães
- KEOPS CASTRO DE SOUZA
- 13 de set. de 2022
- 3 min de leitura

Agora que já “baixou a poeira”, gostaria de parabenizar as Associações da Brigada Militar e dos Bombeiros pelas duas últimas conquistas: a chamada dos candidatos remanescentes para o início do Curso Superior de Polícia Militar e a aprovação do novo plano de carreira da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul.
Como isso já é notícia velha e passadas as devidas comemorações, quanto à chamada dos candidatos remanescentes para o início do curso para formar os novos capitães cabe aqui uma reflexão.
Será que existe motivo para tanta comemoração? Por óbvio, os candidatos aprovados têm todos os motivos do mundo para comemorar. E a estes também deixo aqui meus parabéns. Porém, festejar a chamada de candidatos para um curso de formação de oficiais não seria um sinal de que existe alguma coisa errada na questão estratégica da Brigada Militar e nós ainda não percebemos isso?
Faço esta reflexão como estrategista que sou. Sim! Tenho um título de estrategista na minha Ficha Funcional. Não se espante. Nem saia rolando de rir pelo chão. Já tive o pomposo título de “Chefe da Assessoria de Assuntos Estratégicos da Brigada Militar”. Não fui somente um estrategista, mas o Chefe dos estrategistas que assessoravam o Comandante-Geral da BM. Não é pouca coisa.
Aliás, esse pomposo título está na mesma ordem do meu título de “Desenhista de Publicidade”. Nos anos 80, algumas escolas públicas ofereciam cursos profissionalizantes no segundo grau, atual ensino médio. A escola onde eu estudei, a D. João Becker, eram oferecidos os cursos de Auxiliar de escritório, auxiliar de laboratório, datilografia e desenhista de publicidade.
Não sei desenhar uma linha reta! Mas, está lá pendurado na minha parede o meu diploma de “Desenhista de Publicidade”. No mesmo sentido é o meu título de estrategista da BM. Está registrado nos meus assentamentos funcionais para quem duvidar e quiser conferir.
Pois bem. No século passado, até o final da década de 90, anualmente, eram realizados concursos para o ingresso no Curso de Formação de Oficiais. Religiosamente, fizesse chuva ou sol, no dia 18 de novembro eram declarados Aspirantes a Oficiais entre 30 a 60 cadetes.
O concurso de ingresso era realizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS) e para os civis eram oferecidos somente 20 vagas. Tinha mais inscritos do que Medicina e Direito. Ou seja, os aprovados eram os melhores preparados entre milhares de candidatos.
Neste século, são realizados um ou dois concursos de ingresso para oficiais da Brigada Militar e Bombeiros a cada década. E olhe lá! E quando são realizados, abrem umas 200 vagas com chamada de remanescentes de mais 200 candidatos no mesmo concurso! Um absurdo!
Os últimos Governos têm imposto essa condição de maior número de vagas para a BM e Bombeiros sob a desculpa de maior economia no gasto dos concursos. Eu pergunto para você, amigo leitor, se você fosse presidente de uma empresa, contrataria os 20 primeiros colocados ou os duzentos últimos que ficaram lá na “rabeira” do teste de seleção? De todos os aprovados, quais desses candidatos você acha que estão mais preparados para gerenciar sua empresa. Os primeiros colocados ou os últimos?
E quanto ao argumento da economia de gastos na contratação? Pergunto: você acha que a Polícia Civil se preocupa com economia de gastos quando abre um concurso para selecionar seus futuros Delegados? Lógico que não! Eles querem nos seus quadros os melhores. E o concurso de Procuradores do Estado ou de fiscais da fazenda, eles fazem economia? Não é novidade que Brasil afora o Poder Judiciário e o Ministério Público abrem concursos caríssimos para preencherem apenas uma ou duas vagas.
Todavia, quando é a Brigada Militar que necessita preencher seus quadros a “economia” é a palavra de ordem. Não nos falta visão. A BM e os Bombeiros sabem o que querem se tornar. Talvez, eu arrisco dizer, talvez só nos falte um pouco de autoestima.
Falando em autoestima, eu tenho orgulho em manusear o meu livro de assentamentos que ganhei das mãos do Comandante-Geral numa linda homenagem que ele fez para os militares que recém tinham ido para a reserva altiva.
Mas, alguns anos depois, folheando as suas páginas, percebi agora que surgiram uns furos na página em que aparecem as palavras “Estratégico” e “estratégia”. Que falta de cuidado de minha parte com aquilo que me é caro. Maldito cupim!
Keops Castro de Souza - Advogado
OAB/RS 94.634
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